Por Elinéia Côrtes

Tudo começou quando fui colocada em prova pelo meu coach João Borba, sobre o meu hobby preferido. Constatei que na verdade não tinha um hobby definido e então senti a necessidade de buscar uma atividade efetivamente prazerosa. Não foi necessário pensar muito, pois ainda encantada por um mergulho/batismo guiado, com cilindro, feito em 2008 no Hot Park, Caldas Novas, guardado na memória e em fotos.

Foi uma atividade desafiadora e divertida, mergulho com vida abundante, águas termais e cristalinas, visibilidade de 20 metros. Eu me senti um “peixinho” mergulhando com enormes pirarucus, tambaquis e estátuas mitológicas. Foi marcante, mas por óbvio, após a agonia inicial de estar debaixo d’agua, ambiente que me remetia a um trauma de afogamento, na infância. Com apenas alguns minutos mergulhando, o trauma estava superado com sucesso. Hot Park, Caldas Novas-GO - 2008
O primeiro batismo no mar ocorreu em Fernando de Noronha, 2014. Foi o mais tenso, pela fobia inicial de “pular” no mar e descer como os peixes. Foi o primeiro “salto do gigante”, salto sinistra. Nesse mergulho, a divemaster por inexperiência ou conservadorismo, teve receio e desceu comigo apenas 4 metros, para ficar na “zona de conforto”, foi frustrante uma vez que proposta era mergulhar 10/12 metros.

A partir daí o desejo de fazer o curso de mergulho se fixou em definitivo na minha mente, mas só ocorreu em 2017. A operadora Mergulho & Companhia, com o instrutor Carlos Machado, foi a escolhida. Com o apoio e na companhia do maridão, “meu dupla natural”, fizemos o curso básico Open Water Diver, com checkout nas águas sombrias e geladas do Lago Paranoá/DF.

Logo fomos apresentados ao famoso Lago Azul de Mara Rosa/GO e lá minha vida simplesmente mudou. Mergulhar em água quente e com visibilidade foi sensacional. Percebi que aquele prazer se estendia na conversa com os amigos, no trabalho, no lar, com a minha família, enfim, a semana seguinte ao mergulho era diferente, mais produtiva e mais feliz. Meus olhos passaram a brilhar só de falar das experiências proporcionadas pelo mergulho. Restou consolidado, então, que o mundo subaquático arrebatou meu coração.
Entusiasmada e com a parceria do marido, fiz novos cursos para mergulhos mais profundos e passamos a mergulhar nas viagens de férias. O avançado - Advanced Open Water Diver objetivou um naufrágio de Guarapari/ES, em junho de 2018. Outros pontos como Bonito/MS, Abrolhos/BA, Porto de Galinhas/PE, Arraial do Cabo/RJ, Cabo Frio/RJ, Morro de São Paulo/BA, Salvador/BA, Maragogi/AL aumentaram o prazer em mergulhar com novo sentido para as férias. Cada mergulho uma emoção diferente. Cada “passo do gigante”, uma sensação gravada na memória, que passou a encantar até à minha mãe. Já não seria mais possível viajar sem incluir o mergulho.

O curso Sidemount - configuração com dois cilindros nas laterais, objetivou ficar mais tempo submersa e ocorreu uma nova revolução no prazer de mergulhar sem me preocupar com o consumo de ar.
Com certa razão, sou chamada de “fominha”, por querer aproveitar os últimos minutos de “ar” e fazer mais um “mergulhinho”, não importa se profundo ou não, se água com boa visibilidade e temperatura ou não. O importante é “fazer bolhas”.
Os cursos de Primeiros Socorros e Rescue ocorreram na Operadora Migulho - Centro de Mergulho, com o instrutor Gustavo, cursos essenciais para a segurança na atividade. O mergulhador
responsável deve buscar esta formação. Fomos habilitados no curso de arrais amador, objetivando mais segurança nas viagens com mergulho. Nunca sabe o que pode acontecer em alto mar.
Com efeito, cada mergulho uma sensação diferente, um aprendizado, um detalhe, um
sentimento novo, um prazer incomensurável, um susto, às vezes, um “perrengue”, uma emoção única, especialmente em naufrágios para ver e tentar abraçar os peixinhos. É uma realização pessoal viver a calmaria das profundezas assemelhando um estado de transe.

Em Bonaire/Caribe, com diversificada e abundante flora marinha, o mergulho no naufrágio Hilma Hooker, guiado pelo querido instrutor Duylio na Expedição Migulho em Bonaire 2022, foi o mais prazeroso, simplesmente desafiador e indescritível, com direito a penetração no naufrágio.
Retornei a Noronha em 2023, agora mergulhadora experiente. Fui às profundezas no batismo do naufrágio na Corveta V17, 60m, aproximadamente. A operadora foi a Sea Paradise, excelência na
qualificação de mergulhadores, com o privilégio de ter como dupla Fernando Rodrigues, carinhosamente, “Cabeção”.
Nessa operação, o sonho de mergulhar como “gente grande” foi alcançado. Sem dúvida, esse foi o mergulho mais arrojado, radical e importante da minha vida, pelos desafios e perigos que as profundezas impõem. A certeza da segurança e cuidado que o Fernando proporciona ao mergulhador, foi essencial. A experiência na visita à Corveta V17 transformou meu modo de encarar o mergulho, especialmente quanto aos cuidados com a técnica e a segurança da operação. Tudo isso na companhia fantástica das misteriosas barracudas, arraias, lagostas, tartarugas, enormidade de cardumes, meros
gigantes, tubarõezinhos. O bônus foi um incrível mergulho noturno, no Porto Santo Antônio, com tartarugas, muitas lagostas e na companhia dos tubarões passando ao largo no foco da lanterna, garantindo um prazer nunca imaginado.
Em Bahamas/Nassau, 2024, o Shark Feeding, foi o mergulho mais emocionante até então.
Uma hora de contemplação aos grandes e temidos tubarões tigres. Ali fui ao completo êxtase e assim fiquei por semanas. O prazer da atividade saltou aos olhos e evidenciou que preciso viver muito para mergulhar mais.

Difícil, na verdade, externar o prazer, a emoção, a felicidade, quando penso que irei mergulhar. Reafirmo que o importante é fazer “bolhas”, ouvir o barulho característico do simples ato de respirar e da vida marinha, depender dos sofisticados equipamentos, estar com os amigos e saber que eles cuidam de
você, certamente o mais importante na atividade do mergulho.
Já sabe qual é o meu hobby? Não há dúvidas de que a atividade mais prazerosa para mim, é mergulhar, onde a paz, a harmonia, a reflexão e a presença de Deus, prevalecem. No mergulho, eu tenho
uma comunhão perfeita com o Criador, que me protege de todos os males e perigos que a atividade libertadora desafia. Quando me aposentar, vou “viver para mergulhar”. Há inúmeros pontos de mergulho “no radar”, para visitar o mais rapidamente possível.
Beijos, bolhas, braços abertos e coraçõezinhos subaquáticos para os aficionados, como eu,
pelo mergulho.
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